Estudei em um colégio de padres, onde aconteciam as coisas mais esquisitas
que se possa imaginar.
O gabinete do colégio era um deles. Onde os livros caiam das estantes sozinhos.
Mas os padres não gostavam que comentássemos nada. Também havia o vestiário em
que os chuveiros ligavam sozinhos. Ouvíamos batidas nos armários de ferro do
vestiário. Levávamos grandes sustos por lá.
Pelos corredores mal iluminados e principalmente nos andares superiores, as
vezes, nós alunos, víamos o fantasma de pessoas vestidas de padres andando
solitárias pelos corredores.
Eu vi uma cena destas somente uma única vez, em uma noite de tempestade muito
forte, acabou faltando luz no colégio que era tipo internato e eu e um de nossos
amigos de classe pegamos uma vela e ela estava apoiada em uma espécie de pires e
tinha uma caixinha de fósforos e fomos para o alojamento num dos andares
superiores. Trovejava muito nesse momento e quando estávamos andando por um dos
corredores compridos do solitário colégio, vimos um padre vindo em nossa
direção. E meu amigo perguntou ao padre se queria que pegasse um vela para ele e
quando chegamos perto do padre, o padre falou para nós que não precisava e
soprou nossa vela, deixando a gente em total escuridão. Ficamos ali parados no
meio do corredor e logo em seguida eu tateei o pires com a vela e peguei a caixa
de fósforos e risquei e o fósforo clareou momentaneamente o corredor sombrio e
nós pudemos ver que não havia ninguém ali perto e não poderia ter se escondido
ninguém também em nenhum lugar, uma vez que na posição em que nos encontrávamos
do corredor, que era mais ou menos no meio, só havia uma porta bem no final do
grande corredor, tanto de um lado como do outro.
Foi um Deus nos acuda e saímos em disparada pelo corredor e ao atravessarmos a
porta no final dele, esbarramos em um outro colega que saía de um dos quartos e
fomos os três para o chão e na escuridão e pudemos notar que ele estava tão
assustado quanto a gente porque também corria do quarto e disse que alguma coisa
ficou pressionando seu peito e quando conseguiu sair sentiu algo como puxando
levemente o seu braço e depois a sua perna quase puxando ele para trás e ele
estava em total apavoramento. Ele ainda estava acabando de relatar isso, quando
ouvimos uma gargalhada no escuro e outra vez saímos em disparada, mas agora
éramos três apavorados e não apenas dois.
Ao chegarmos na copa onde os padres faziam as refeições. Nós explicamos o que
havia se passado a um dos padres e ele apenas aconselhou esquecermos tudo o que
ocorreu e a não ficar falando essas coisas para as pessoas e que apenas
esquecêssemos tudo. Ficou evidente que ele também já havia passado e presenciado
alguns fatos sobrenaturais mas não queria dar o braço a torcer.
Outra vez, estávamos em número de doze alunos e de repente ouvimos um barulho
como se tivesse alguém muito ofegante perto da gente e o grande espelho da
parede começou a fazer estalos e ao fixarmos o olhar no espelho que ia até quase
o teto, pudemos observar que ele começou a trincar lentamente de uma ponta a
outra ao mesmo tempo que o barulho de alguém ofegante continuou. Ficamos todos
juntos e muito assustado com tudo aquilo.
Neste colégio também havia nos fundos dele uma espécie de pátio que acabava em
uma espécie de bosque e estávamos nos fundos do pátio e era de noite e ficamos
encostados nas janelas dos fundos e de repente pudemos avistar ao longe, no meio
da vegetação um vulto que caminhava e trazia consigo algo que brilhava com a
pouca luz que havia, na verdade o colégio era muito mal iluminado, possuindo
luzes fracas e amareladas, dando um ar triste a tudo. E pudemos ver ao longe
algo que trazia em uma das mãos e era brilhoso como se fosse a lâmina de uma
faca, mas não chegava a vir em nossa direção. Parecia mais como uma ameaça, mas
não chegava a vir até nós. Era realmente apavorante ver aquele vulto por entre
as árvores e arbustos de um lado ao outro e aquela lâmina brilhando de vez em
quando.
As vezes acordávamos no meio da noite como se houvesse um peso em cima da gente,
fazendo com que a gente quase perdesse o fôlego e tínhamos que levantar para
melhorar e respirar melhor, mas isso acontecia somente as vezes e com alunos
diversos.
Houve uma vez, (mas eu não estava, pois estava passando alguns dias na casa de
parentes) em que um padre foi encontrado morto na lateral do prédio e não
conseguiram dizer do que havia morrido e segundo contam morreu de olhos
esbugalhados.
Davidson - Rio de Janeiro - RJ